Soluções
O 'mar de plásticos' que abastece a Europa com tomates
Almería, na Espanha, tem em torno de 40 mil hectares de estufas de produção de hortifrútis
A vista aérea de Almería, na região da Andaluzia, na Espanha, impressiona. São cerca de 40 mil hectares de estufas que formam o chamado “mar de plástico”, tornando a cidade um dos mais importantes polos produtores de hortifrútis do mundo. Além da abobrinha, cebola, pepino e pimentão, o tomate se destaca pela sua boa adaptação às grandes estruturas cobertas por plástico.
São mais de 150 variedades do fruto que ocupam cerca de oito mil hectares em diferentes estilos de estufa. Na propriedade Agrosol Export, os 200 hectares de tomate são monitorados com rigor e alta tecnologia. Sistemas de ventilação, sensores climáticos e reaproveitamento de água são alguns dos mecanismos automatizados que o proprietário José Ángel Amat se orgulha em apresentar.
O produtor explica que Almería se adaptou às estufas devido à intensa irradiação solar ao longo do ano. Com poucas chuvas, temperaturas elevadas para a região e o maior número de horas de sol da Europa, a cidade possui um clima seco semelhante ao deserto.
.jpg)
“Almería necessita das estufas sobretudo pela luz, porque temos muita irradiação solar durante o ano, inclusive no inverno”, explica Amat. Ele acrescenta que praticamente 100% da produção é destinada à Europa, com forte presença no mercado inglês.
O controle da umidade relativa do ar dentro das estufas também é essencial, pois os tomates podem rachar facilmente caso o ambiente se desregule. Essa variação térmica é sentida na prática: uma manhã de 15°C rapidamente se transforma em um calor abafado de 22°C dentro da estrutura.
Reciclagem incentivada
O plástico das estufas tem uma vida útil média de cinco anos, sem considerar danos causados por rajadas de vento. Segundo os produtores, cerca de 95% do material é reciclado por meio de programas do governo local. A adesão a essas práticas aumentou nos últimos anos devido a sanções e multas para quem descarta o plástico de forma inadequada.
Em uma área administrada pela Nunhems, marca de sementes de frutas e hortaliças da multinacional alemã Basf, apesar do avanço tecnológico, o trabalho manual ainda é essencial: ali, três trabalhadores colhem tomates graúdos e vistosos.

Para Jorge Marín, especialista de vendas da Basf Nunhems, as condições criadas pelos produtores tornaram Almería um local ideal para o cultivo de hortifrúti, mas há desafios. “O cultivo tem oscilado nos últimos anos devido ao aumento do custo da mão de obra, que encarece a produção”, analisa.
E esse não é o único problema. O vírus do rugoso (ToBRFV, Tomato brown rugose fruit virus) representa uma grande ameaça ao setor. Identificado em 2014 em Israel, chegou à Espanha em 2019 e se espalhou rapidamente pelo país em 2022.
Apesar do sucesso das estufas, elas não oferecem proteção total contra o vírus. “A infestação do rugoso tem sido um problema há três anos. Hoje, há protocolos rígidos de acesso e higiene para entrar em qualquer fazenda ou estufa”, explica Marín.
Ele destaca que, embora as estufas concentrem menos funcionários do que os campos abertos, isso não impede a disseminação do vírus. “Máquinas, tratores e robôs também transportam o vírus”, alerta.
*O jornalista viajou a convite da Basf
