Brasil

Soluções

Vírus rugoso do tomate atormenta produtor na Espanha e requer atenção global

Especialistas afirmam que a chegada da doença ao Brasil é questão de tempo. Em missão técnica, agricultores observaram como evitar a disseminação

O vírus rugoso (ToBRFV, Tomato brown rugose fruit virus) é a grande ameaça da cultura do tomate na Espanha. Na região da Andaluzia, produtores deixam evidente seu tormento com a doença, ao receberem agricultores brasileiros em suas propriedades. Os espanhóis convivem com a doença em suas lavouras desde 2019. O Brasil nunca registrou nenhum caso, mas especialistas alertam que é uma questão de tempo.

Com impactos severos em lavouras ao redor do mundo, o vírus pode causar perdas produtivas de até 70%. Ainda não existe um tratamento específico, e por isso, empresas do setor têm desenvolvido variedades híbridas resistentes ao ToBRFV.

De acordo com Ivan Sierra, especialista da Nunhems, marca de sementes de frutas e hortaliças da BASF, o primeiro caso foi identificado em Israel, em 2014. Desde então, o vírus se espalhou. O primeiro foco na Espanha é datado de 2019. Em 2022, já estava disseminado em larga escala no país.

“É extremamente estável, podendo sobreviver até 10 anos em tecidos secos e resistir a altas temperaturas. Em roupas, por exemplo, aguenta até 90ºC”, explica Sierra, que dedica 100% de seu trabalho ao estudo do ToBRFV. Sem vacina ou cura, os impactos da doença são mitigados com medidas baseadas em genética, prevenção e manejo dentro de cada cultivo.

Sierra destaca que a desinfecção de qualquer instrumento que entre na fazenda é o primeiro passo no combate ao vírus. “Qualquer pessoa pode ser um vetor de transmissão”, alerta o especialista. Uso de sementes certificadas, manipulação mínima das plantas, identificação e remoção de plantas suspeitas, a limitação do acesso de pessoas às lavouras e treinamento dos trabalhadores são outras medidas que minimizam o risco de infecção dos tomateiros.

Jorge Marín, especialista da Nuhems: Hoje, há protocolos rígidos de acesso e higiene para entrar em qualquer fazenda ou estufa” — Foto: Marcos Fantin/Globo Rural

Jorge Marín, especialista de vendas da BASF Nunhems, acrescenta que a infestação do ToBRFV tem sido um problema sério nos últimos três anos na Espanha. “Não tínhamos noção da gravidade da situação e, por isso, enfrentamos níveis preocupantes de infestação. Hoje, há protocolos rígidos de acesso e higiene para entrar em qualquer fazenda ou estufa”, relata.

Segundo Marín, todos os trabalhadores e visitantes das propriedades devem seguir procedimentos rigorosos de desinfecção e profilaxia. Além disso, variedades geneticamente resistentes ao vírus já estão disponíveis no mercado. Como a transmissão ocorre por contato, qualquer material, pessoa ou objeto pode espalhar o patógeno para novas áreas.

José Angel Amat, produtor rural espanhol — Foto: Marcos Fantin/Globo Rural

Para José Ángel Amat, que produz cerca de 220 hectares de tomates em estufas, o cultivo de variedades resistentes é o principal. "Se você toca numa planta com rugoso, encosta em mim, e eu toco em outra planta, já é suficiente para a infecção".

Uma vez que o tomateiro é infectado pelo vírus, não há outra solução a não ser erradicá-lo. Depois da remoção, é necessário realizar um processo de limpeza profunda do solo antes de plantar novas variedades resistentes. A doença pode se propagar tanto em estufas quanto em campos abertos. Em lavouras a céu aberto, no entanto, as plantas têm menos contato entre si e a circulação de trabalhadores é menor e mais espaçada, reduzindo as chances de disseminação.

Demanda do Brasil

O produtor Lauro Andrade cultiva cerca de 200 hectares de tomate no município de Monte Mor, em São Paulo. Na Espanha, ele viu de perto e teve a possibilidade de entender como o vírus mais ameaçador da cultura se propaga.

“Aqui, a gente viu que eles já conseguiram criar variedades tolerantes a esse vírus, e essas variedades tem muita qualidade no fruto. Elas podem satisfazer a nossa demanda no Brasil”, afirma.

Ele ressalta que algumas ações são básicas e devem ser empregadas em toda e qualquer fazenda. “Higienização das mãos, cuidado na hora de fazer o desbaste, limitar o acesso de pessoas na lavoura, utilização de luvas, aventais e protetores de pé”.

*O jornalista viajou a convite da Basf

Tanques de preparação das sementes - Foto: Guilherme Dorigatti